quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Blues em Português com Paulo Coruja

Hoje trago para o meu blog, uma pessoa conhecida no circuito Blues de São Paulo, meu camarada Paulo Coruja, vocalista e gaitista da Banda Cracker Blues.

A Cracker Blues tem uma sonoridade nervosa, com slides infernais, um vocal marcante e solos de gaita de fazer inveja. Essa Banda teria tudo para fazer apenas som em inglês, mas graças aos deuses do Blues, eles tem composições maravilhosas em Português. Por este motivo, convidei o Paulo Coruja, para responder umas perguntinhas.


TB: Por que fazer letras em Português ?

PC: "No começo foi uma decisão trabalhosa, pois tínhamos em mente que a sonoridade da língua inglesa se adequa bem ao estilo bluesy de cantar, além de que é a língua original dos mestres.

Mas vendo a questão por outro lado, a proposta do blues de raiz era cantar o cotidiano do cara que está ouvindo, cantar o sentimento real do músico para pessoas que entendiam do que ele falava e poderiam compartilhar com ele suas razões. A princípio, porém, tínhamos pensado em compor nas duas línguas. Mas algumas situações ocorreram: apesar de meu domínio do inglês, o sotaque poderia ser um empecilho, posto que nós, brasileiros, tendemos a não gostar de estrangeiros cantando em português (vide as inúmeras versões de Tom Jobim e Ivan Lins, e as críticas que estas recebem, sempre enfatizando o "quase sem sotaque", ou "sotaque carregado"), então talvez a recíproca fosse verdadeira; outra coisa é que muito poucas pessoas entenderiam o que estaríamos falando (visando o público nacional), ou mesmo saberiam se a música é nossa ou uma cover meio "obscura"! Já vi muita banda boa, tocando música própria e o público sem saber se era cover ou não, achando que "essa é do Whitesnake" ou "eu já ouvi essa do Buddy Guy".

(Cracker Blues)

Preferimos em nosso trabalho valorizar a comunicação com o público brasileiro, e tentar, na medida do possível, adequar a sonoridade da língua à que necessitamos em nossas composições.

Hoje em dia é necessário estabelecer uma identidade clara para a banda, de modo que estamos lançando a banda como uma opção de blues em português. No rock nacional, o português tem ganho cada vez mais espaço (vide bandas recentes, como Tomada, Baranga, Cachorro Grande, Matanza, Pitty, e as clássicas Mutantes, Cazuza, etc) então tentamos inserir nossa cara mais "blueseira" nessa seara. "

TB: Como o público reage ?

PC: "Acredito que, se a letra for boa e bem casada com a melodia (lembrando-se que português não se canta da mesma forma que inglês), o público gosta bastante!! Velha Tatuagem e Nascido em São Paulo são nossos carros chefe, e têm sido freqüentemente pedidas em shows, por gente que eu nunca vi , que conheceu a música na Internet ou por meio de amigos!! É bastante impressionante.

Os comentários depois do show são muito receptivos, inclusive a maioria só comenta as músicas em português,(fazemos algumas covers em inglês, mas estamos diminuindo a quantidade) geralmente falando sobre histórias parecidas e elogiando...Acredito ter sido uma opção acertada para aumentar nosso alcance!

Nosso público tem se formado principalmente de pessoas de fora do "público blues"de São Paulo, mais purista, ao contrário do de outros Estados.Temos tido muita aceitação pelo pessoal do Rock, da MPB e por pessoas mais ecléticas, ou que nunca ouviram blues, o que é excelente, pois amplia muito nosso leque! Geralmente nós somos identificados com uma banda de Rock por blueseiros, e com uma banda de blues por roqueiros!

Ao ouvir a letra, as pessoas no princípio prestam atenção, depois do segundo refrão já começam a cantar junto (inclusive temos uma dessas com público cantando no YouTube.

As críticas que ouvi partem geralmente de alguns músicos, não do público, e são no sentido de que “isso não é blues, ou ,é bom, mas não é blues”. Felizmente, não é o que ouço da parte dos músicos profissionais com os quais trabalho!

Sinto um certo “preconceito” da parte de alguns poucos músicos, uma deificação de estilo que, na minha opinião, é prejudicial à música em geral....quando alguém fala que “isso não é blues”, ou “chame de outra coisa”, pressupõe-se um conjunto de regras inquebráveis, que são determinadas por crenças pessoais no que é ou não é um estilo!

Respondo...Nós da Cracker fazemos o nosso blues, e chamamos do que quisermos...Se amanhã quisermos chamar de Cracker Samba, assim será!!" (Risos)

TB: Quem na banda escreve as letras ?

PC: "Eu mesmo, Paulo Coruja, eventualmente com a ajuda de outras pessoas, como a Larissa (produtora) e o Paulo Kruger (baixista).

Achamos por bem seguir um estilo “Robert Johnson+Tom Waits+compositores brasileiros de samba antigo” nas letras e temas, sempre com alguma ironia (eu não consigo compor nada muito triste!), mas sempre evitando soar “engraçadinhos”.

(Paulo e Larissa)

O Brasil tem excelentes compositores, dentro e fora do blues, é só procurar!"






Vida longa a Cracker Blues e Valeu Paulão !!!!

2 comentários:

Roberto Terremoto BluesMan disse...

Paulão,

Muito obrigado pela ajuda.

Paz e Blues,
Terremoto

Paulo Coruja disse...

"Mestre Terremoto",

A Cracker é que agradece a oportunidade! Bem legal a enquete, parece que o Blues em Português é mesmo um bom caminho!!
Sucesso prea você, pra Marafa e pro Blog!!

Abraço!!
Paulo Coruja